Crossroads, realizado por Walter Will em 1986, começa com a história do lendário Robert Johnson, eleito um dos melhores guitarristas de sempre, cuja lenda diz ter composto trinta músicas, mas apenas eram conhecidas vinte e nove. É esta música perdida que leva o protagonista da trama, Eugene Martone, um prodigioso estudante de música clássica e aficcionado por blues, a descobrir esta faixa que nunca fora gravada... Quando descobre o paradeiro de Willie Brown, tocador de harmónica e amigo íntimo de Robert Johnson, ajuda-o a fugir do asilo-prisão, com a promessa de Brown lhe ensinar o misterioso tema perdido (que afinal nunca existira...!). O que ele queria era chegar ao Mississipi, o berço dos blues, para que Eugene sentisse os blues como nunca lera nos livros...
É já perto do destino da viagem de Lightning Boy e Blind Dog Fulton, que se dá, para mim, o momento mais marcante e simbólico do filme. Numa cidade sulista, existe uma rua com dois bares, um exclusivo a brancos, outro exclusivo a negros. Onde se toca e dança country, só entram brancos para se divertirem; e onde se toca e dança blues, só os negros estão autorizados a esquecer mais um dia de trabalho.
Forçosamente, o jovem branco tem que entrar no bar dos pretos. É incrível o semblante de todos naquela sala ao vê-lo entrar ali. O choque, o olhar consternado dos presentes, o impensável, o inalcansável, a certeza de que uma regra dura fora quebrada pela primeira vez...
Contra isto, começou o Movimento dos Direitos Civis Afro-Americanos. Teve a sua primeira investida entre 1955 e 1968, levado a cabo por personalidades como W.E.B. Du Bois, Malcom X, Rosa Parks e Martin Luther King, negros que contestaram o poder e a discriminação, levantaram a voz contra a opressão, manifestaram-se pacificamente contra o racismo, exigindo igualdade política, económica e social, dignidade, respeito e liberdade de expressão para a população afro-americana.
Foi um longo caminho. Talvez, uma caminhada sem fim... Perderam-se vidas. Sempre me questionei a respeito destas diferenças. Nunca as entendi.
No entanto, ao longo deste caminho, e, só agora, no presente ano de 2009, somos capazes de ver uma luz no fundo do túnel, com os próprios americanos, brancos e negros, latinos e muçulmanos, a aleger um presidente da República negro para liderar o país. É a evolução da mente. Tal como os blues nasceram para fazerem nascer outros géneros, como o rhythem & blues, o jazz, o gospel, a soul, o rock and roll.
Acredito profundamente que o épico “I have a dream” de Luther King foi ouvido. E espero que continue a ecoar mundo fora.
“Os Blues não são nada além de homem com a sua tristeza...”
Blind Dog Fulton
Por Vanessa Cardoso
Crossroads, quando os negros se cruzam na vida dos brancos...
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